Mão de obra operacional no Brasil: desafios da atração de talentos qualificados

Mão de obra operacional no Brasil: desafios da atração de talentos qualificados

A escassez de profissionais para compor a mão de obra operacional no Brasil tem se tornado um dos grandes desafios da área de Gestão de Pessoas.

Essa crise é agravada pela forte competição com a informalidade, pelas mudanças estruturais no ambiente corporativo e pelo perfil das novas gerações que chegam ao mercado de trabalho.

Para entender o que está por trás desse cenário e como atrair talentos qualificados para a sua empresa, continue a leitura.

Quais são os motivos da escassez de mão de obra operacional?

O momento atual é de transformações profundas na área de RH, impulsionadas por mudanças socioculturais, como a digitalização, o avanço da Inteligência Artificial e o convívio entre múltiplas gerações no ambiente organizacional.

Essa realidade afeta diretamente segmentos de grande volume e estrutura no Brasil, como a indústria, logística, serviços e agroindústria, que enfrentam dificuldades para preencher funções e garantir a produtividade da operação.

A seguir, conheça os principais fatores que contribuem para esse quadro.

1. Melhora nos índices de empregabilidade

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a taxa de desemprego está 6,2%, abaixo da média histórica de 9,9% entre 2012 e 2025.

Além disso, o estoque de empregos formais no Brasil atingiu cerca de 47,2 milhões no fim de 2024 — dos quais 25% a 35% das posições podem ser consideradas operacionais, como produção, operação de máquinas e manufatura.

Isso ativa a lógica da oferta e da procura, elevando a disputa por bons profissionais e a competitividade por salários e benefícios.

As empresas precisam mensurar quanto da população desempregada realmente está disponível para vagas formais, além de ofertar boas condições de trabalho para retenção e atração de talentos.

2. Mudança de expectativas das novas gerações

As gerações mais jovens demonstram menor interesse em empregos regidos pela CLT, o que contrasta com a estrutura trabalhista vigente no Brasil — baseada em um modelo sindical de 1943 que passou por poucas revisões.

Segundo uma pesquisa da Data Folha, 59% dos brasileiros dizem que preferem trabalhar por conta própria, sendo a resposta de 68% da faixa etária de 16 a 24 anos.

Além disso, a parcela que considera mais importante ter registro formal, mesmo com salário menor, caiu de 77% para 67% de 2022 a 2025.

Como consequência, muitos profissionais têm buscado modelos de atuação mais flexíveis e autônomos, dedicando-se ao empreendedorismo ou trabalho sob demanda.

3. Concorrência com os auxílios governamentais

É inegável a relevância dos programas de transferência de renda e bolsas assistenciais para garantir a dignidade das populações mais vulneráveis.

Atualmente, 95 milhões de brasileiros recebem benefícios do governo federal. Esse número representa quase metade da população, 47% dos 203 milhões de habitantes.

Porém, em alguns casos, esses benefícios podem desestimular a formalização do trabalho.

Isso porque, ao conquistar uma vaga com carteira assinada, o beneficiário pode perder o auxílio, reduzindo sua busca por oportunidades e permanência nas empresas.

Uma alternativa a esse desafio é rediscutir os critérios de entrada, permanência e “porta de saída” desses incentivos, com foco em capacitação, empregabilidade e mobilidade social estruturada.

4. O impacto do PIX na informalidade

A popularização do PIX como meio de pagamento, desde 2020, transformou de forma silenciosa e profunda a dinâmica do trabalho.

Segundo o Banco Central do Brasil, o serviço é usado por 76,4% da população, superando o dinheiro em espécie.

Hoje, praticamente qualquer atividade (de vendedores ambulantes a prestadores de serviços) pode ser remunerada em segundos, sem burocracia ou necessidade de vínculos formais.

Na prática, isso criou as condições ideais para a expansão da informalidade entre grande parte da população em idade ativa.

A combinação entre flexibilidade, ausência de jornada fixa e possibilidade de continuar recebendo benefícios governamentais, tornou-se mais vantajosa.

Caminhos possíveis para o RH

Como vimos, os obstáculos para atrair mão de obra operacional no Brasil são complexos e as soluções não são imediatas.

O cenário exige uma revisão estrutural em várias frentes: repensar os modelos de contratação, flexibilizar a legislação trabalhista, reduzir a carga tributária sobre o trabalho formal e aprimorar as políticas de distribuição de auxílios governamentais.

Ao mesmo tempo, as áreas de Gente e Gestão tem um papel estratégico na superação dessa crise.

É necessário trabalhar com base em dados, criatividade e proximidade com as comunidades, apostando em estratégias de atração personalizadas e parcerias locais, além de ações consistentes de capacitação e engajamento no médio e longo prazo.

Para entender melhor sobre as tendências do mercado de trabalho e aprender como gerir talentos em posições operacionais, técnicas ou de gestão, acompanhe o LinkedIn da Selpe.

Autor
Mão de obra operacional no Brasil: desafios da atração de talentos qualificados
Sócio-diretor
Glaucus é Sócio-diretor na Selpe, Diretor regional da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), co-founder da wellness tech Holi Connection e diretor da Associação Comercial de Minas (ACMinas). Está sempre em busca de novas oportunidades para inovar na gestão de pessoas e promover negócios sustentáveis.